Frater Vameri
Eu arriscaria dizer que todos que estão envolvidos com o ocultismo já ouviram falar de Éliphas Lévi. Famoso pela clássica obra “Dogma e Ritual da Alta Magia”, poucas sociedades mágicas contemporâneas (ou talvez nenhuma) podem dizer que não bebem da fonte desse autor. Seu nome na verdade era Alphonse Louis Contant e passou boa parte da vida em seminários, sendo ordenado diácono em 1835. Afinal de contas, o que Éliphas Lévi tem a ver com o Vodou Haitiano?
Eu já discuti em textos anteriores que o Vodou também nasce influenciado pelo esoterismo Francês. Por conta da organização da Maçonaria e também da herança francófona, muitos livros esotéricos lançados na França eram rapidamente distribuídos e lançados também no Haiti. Por isso, não é de se espantar que os livros de Éliphas Lévi também tenham circulado pela Ilha de São Domingos.
Sabemos, por exemplo, que o livro conhecido como “Petit Albert”, um grimório de magia com inspiração cabalista era popular no Haiti. Não sei precisar exatamente qual era a popularidade de Éliphas Lévi no Haiti, mas posso afirmar com absoluta certeza que ele deixou sua marca no Vodou Haitiano.
Porém, a maneira como Lévi foi imortalizado no Vodou é surpreendente (e ao mesmo tempo, muito natural). Acho que a maioria das pessoas deve estar pensando que estou falando de uma ligação direta entre algum rito do Vodou e os escritos de Lévi. Entretanto, não é nada disso. De fato, se há tal ligação de maneira que possamos rastreá-la, não sei dizer. Lévi foi incorporado ao Vodou de uma maneira ainda mais poderosa, portanto: tornou-se um de seus espíritos.
Quando discutimos Vodou, geralmente falamos dos Lwas. Entretanto, existem diversos tipos de espíritos no Vodou. Um desses tipos são os djabs – compreendidos como espíritos agitados, rápidos e que resolvem as coisas na mesma hora. Sua moralidade é ambígua e são considerados perigosos. Na verdade, no fundo, muitos Lwas já foram ou ainda são considerados djabs, então a fronteira entre esses dois tipos de espíritos é muito tênue.
Existem inúmeros djabs e muitos são geralmente encontrados em locais naturais, como cavernas e cachoeiras. Entretanto, há também djabs mais misteriosos e dentre esses está um muito peculiar conhecido como Éliphas Je-wouj.
Informações sobre esse djab são raras e eu ficarei devendo uma descrição mais precisa de suas características. Porém, podemos imaginar que seja um grande feiticeiro. Entretanto, não são as habilidades ou conhecimentos desse espírito a parte mais interessante de sua existência, mas sim a clara herança do grande cabalista Francês.
Da França para o Haiti, Éliphas Lévi viaja para se tornar o espírito malicioso conhecido como Éliphas de olhos vermelhos. Uma versão muito curiosa de Éliphas, talvez até mesmo inspirada parcialmente pelo seu Baphomet. Nesse Éliphas Lévi dos olhos escarlates como o sangue temos um testemunho poderoso da imortalidade do ocultista Francês e da vivacidade do Vodou Haitiano.
Comentarios