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As águas de Sodo

Frater Vameri



A cachoeira de Sodo (Saut d’Eau), em julho, é tomada por peregrinos, que na ocasião das celebrações de Notre Dame du Mont Carmel se reúnem neste local sagrado. Essa incrível cachoeira, formada por um terremoto em 1842, é repleta de histórias e habita o imaginário popular, sendo então um local no qual habitam diversos espíritos. De fato, a própria história de sua criação é objeto de lenda, já que contam que um fazendeiro teria avistado a Virgem Maria na localidade.


A aparição da Virgem Milagrosa (Vièj Mirak) não foi, entretanto, a primeira associação da cachoeira ao invisível. É sabido que mesmo antes disso, os locais já reconheciam a cachoeira como um local sagrado para Damballah, Lasirèn, Simbi Dlo e outros Lwas que tem forte associação com as águas.

A Nossa Senhora do Monte Carmelo ou Nossa Senhora do Carmo é identificada com Ezili Dantò. Pode ser fácil perder a associação de Ezili com a água, mas devemos nos lembrar de que Ezili provavelmente tem sua origem no lago Aziri (Benim) e que muitos espíritos femininos tem uma ligação aquática forte, principalmente pelo fato da água ser geradora da vida.


A peregrinação à cachoeira, portanto, não se dá apenas pelo poder da Virgem Milagrosa. Os peregrinos que visitam o local tomam banhos purificadores e fazem solicitações a uma gama de espíritos diferentes. Sodo é verdadeiramente um local mágico, no qual uma das atividades espirituais mais antigas da humanidade, a conexão com as águas, toma uma roupagem contemporânea, atemporal e poderosa.


Não apenas de pessoas solitárias são feitas essas cerimônias. Sociedades de Vodou inteiras se reúnem lá, montam tambores, fazem oferendas e distribuem alimentos. Sacerdotes aplicam banhos nos peregrinos e executam outras cerimônias. É uma festa complexa e bonita que envolve diversas camadas da espiritualidade haitiana.

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