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Loko e Ayizan

Frater Vameri


Imagem de "My pictures are CCO. When doing composing" por pixabay.


Loko e Ayizan representam uma complementaridade e, por isso, são frequentemente compreendidos como um casal – são, respectivamente, o primeiro houngan e a primeira mambo. São, portanto, chefes ritualísticos e curandeiros. Muitas vezes vemos a literatura e os interessados dando pouca importância aos dois e isso é um equívoco, pois apresentam papel central. Neste ensaio, gostaria de discutir brevemente sobre estes Lwas.


Considera-se que Loko (também chamado de “ele das árvores”) é quem comanda o poteau-mitan e também que ele tenha sido o primeiro a usar a força das ervas para a cura. Ayizan, por sua vez, é conhecida como uma grande força contra ataques mágicos. Isto aponta claramente para uma ligação fundamental entre o ofício do sacerdócio, a ritualística e a cosmologia com a natureza. Em outras palavras, não é possível pensar o Vodou e suas cerimônias sem que exista uma forte conexão ao mundo natural. Discutirei um pouco mais sobre isso adiante.


No seu papel de curandeiro e conhecedor das plantas, Loko se confunde com Gran Bwa e também com o Osain do Candomblé. Sem querer estabelecer uma ligação direta e afirmar que Loko seria a contraparte de Osain, é evidente que os dois guardam semelhanças. Em princípio essa associação entre um espírito e a natureza pode parecer desinteressante para um ocidental habituado à vida em cidades. Entretanto, precisamos entender que os povos da África e os povos Afro-Caribenhos (em geral) apresentam uma relação diferente com a natureza. Assim como para eles a separação entre sagrado e profano é vista de maneira diferente, o mundo natural e o mundo corriqueiro se misturam. Portanto, espíritos como Loko e Osain não são meras figuras exóticas, mas sim verdadeiros balizadores da vida e dos mistérios dessas sociedades. Por isso, suas figuras são refletidas nos sacerdotes e nos curandeiros – pessoas que guardam o limiar entre o visível e o invisível.


Dentre os símbolos de Loko, estão, claro as matas, o camaleão e a borboleta. Inclusive, entende-se que Loko possa assumir a forma destes dois últimos. Emile Marcelin fala que Loko está intimamente ligado aos espíritos Legba, sendo o "chefe" deles. Isto conversará com a associação que discutiremos brevemente sobre Ayizan com Legba também. Assim, Marcelin também associa Loko aos caminhos e encruzilhadas.


Ayizan, além de estar à frente do ofício das mambos, também é uma Lwa que atua no mercado (a importância do mercado para alguns povos Africanos daria um texto à parte) e também está relacionada a floresta e as plantas. Assim, suas proteções e curas, claro, terão um tanto do uso do conhecimento natural. Vemos aqui o tema claro da estreita conexão entre o sacerdócio e Gran Bwa, o Lwa da floresta. A mata, claro, é um lugar de mistérios por natureza e isto aponta para a indubitável natureza mágica do sacerdócio no Vodou. Neste contexto, cumpre lembrarmos que Gran Bwa é um dos mestres da magia do Vodou. Por consequência, Loko e Ayizan dividem desse poder mágico.


Também vemos Ayizan como esposa de Papa Legba. Geralmente essa associação surge de seu papel de maestria sobre o mercado, os lugares públicos, as portas e barreiras. Ayizan também tem apresenta destaque em cerimônias funerárias. Ou seja, é claro que estamos discutindo uma Lwa cuja ações e presença reverberam por todo o Vodou. Seu vevé parece um A e um V sobrepostos. Alguns dizem que são suas iniciais Ayizan Véleque. Porém, é mais provável que o vevé represente as folhas de palmeira, seu símbolo.


Portanto, temos que estes Lwas estão em todas as camadas do Vodou. Assim, temos que Loko e Ayizan sãos os Lwas que também cuidarão da “observância ritual” e da passagem do conhecimento pelo culto. Não seria exagero dizer que são os “zeladores” do Vodou. Por isso, é certo que nenhum servidor dos Lwa queira desagradá-los.


Espero que este pequeno texto tenha sido suficiente para marcar a importância destes Lwas. É curioso notar que muitos espíritos do Vodou parecem ter papéis semelhantes ou redundantes – mas um olhar mais cuidadoso revelará que existe uma individualidade muito precisa e oportuna em cada um deles.

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