Frater Vameri
Werner Jaeherhuber apoiado em muletas se aproxima da imagem de São Lázaro, sincretizado com Papa Legba, o Lwa que guarda os caminhos.
Grenier & Dauphin discutem a Messe sur les airs vodouesques de Werner Jaegerhuber e sua importância para a compreensão de como dois mundos podem se integrar. Eu gostaria de discutir um pouco o trabalho desses dois autores e também apresentar essa composição musical ímpar que foi feita em 1953 e comissionada por Louis Maximillien para a comemoração dos cento e cinquenta anos de independência do Haiti.
A história dessa composição é curiosa. Maximiliem e o comitê organizador das festividades apresentaram ao Bispo de Les Gonaïves a ideia de uma missa artística, mas não foram completamente honestos sobre suas intenções. O Bispo, contam, aceitou a ideia, mesmo um pouco desconfiado. Se ele soubesse das ideias de Jaegerhuber, o compositor da peça musical, certamente teria vetado na hora. Tanto é verdade, que Maximillien depois sugere que Jaegerhuber mude o título da composição para Messe folklorique Haïtienne de maneira que o elemento “Vodou” fosse diluído em meio ao folclore.
Eventualmante, o Bispo de Les Gonaïves, Monsenhor Robert, descobre as intenções do artista Germânico-Haitiano Jaegerhuber e não permite que a composição dele seja executada nas festividades. Como bem colocam Grenier & Dauphin, Jaegerhuber estava colocando claramente que entre o catolicismo e o Vodou existia uma certa intimidade e interconectividade, coisa que a igreja jamais assumiria.
Grenier & Dauphin destacam que a ideia de Jaegerhuber era fazer uma missa com elementos de canções de Vodou. Isto foi feito por meio da costura de elementos da igreja (como canto gregoriano), canções do Vodou e também por meio da criação artística própria do compositor. Por exemplo, melodias de Vodou são adaptadas para a liturgia missal em latim.
Ora, de fato, estamos diante de uma manifestação musical do que já acontecia na prática. Afinal, o catolicismo já vinha sendo integrado ao Vodou (e vice-versa) no Haiti desde quando os primeiros escravizados chegaram da África.
A missa composta por Jaeharhuber apresenta seis movimentos onde conversam elementos do canto gregoriano e de canções do Vodou. O primeiro movimento é Kyrie, depois vem Gloria, com uma solista soprano. O seguinte é Credo, depois Sanctus¸ baseado numa canção sobre Damballah, Benedictus é o movimento seguinte e Agnus Dei é o movimento que encerra, sendo baseado em canções para Erzulie e São Lázaro.
Infelizmente, eu não consegui uma reprodução da missa para compartilhar, mas deixo aqui o link para a Suite Folklorique de Werner Jaegerhuber. Aproveitem!
Grenier, Robert, and Claude Dauphin. “Werner Jaegerhuber's ‘Messe Sur Les Airs Vodouesques’: The Inculturation of Vodou in a Catholic Mass.” Black Music Research Journal, vol. 29, no. 1, 2009, pp. 51–82. JSTOR, www.jstor.org/stable/20640671. Accessed 8 Feb. 2021.
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