Frater Vameri
O poteau-mitan cercado de desenhos ritualísticos. Retirada de RIGAUD, 1969.
O templo do Vodou é o local no qual as cerimônias ocorrem e onde grande parte do contato entre o mundo visível e o mundo invisível se dá. É evidente, portanto, que este templo precise obedecer a certos parâmetros, de maneira que esteja apto a funcionar devidamente. Por isso, alguns elementos são fundamentais e podem ser encontradas em praticamente todos os templos de Vodou (é importante notar que o Vodou é muito diverso e que estou generalizando com o intuito de apresentar esses elementos).
Basicamente, o templo, conhecido como Hounphour, consiste em um espaço protegido por um teto e por um espaço sem teto, um pátio. O fechado é chamado de Peristilo e é o local no qual a maioria das cerimônias ocorre. O chão é usualmente de terra batida, mas com as dificuldades contemporâneas de espaço, em centros urbanos já é possível encontrar Peristilos com chão de cimento ou ladrilhos. No centro do Peristilo está um dos elementos mais importantes do Vodou: o poteau-mitan.
O poteau-mitan é um poste central apoiado em uma base chamada de Pe. Este poste é a ligação entre o mundo visível e invisível. Representa uma árvore que tem sua copa nos céus e as raízes no inferno. Geralmente é adornado com imagens de Dambalah e Ayida e outros símbolos. Entende-se que é por este poste que os Lwas “descem” e “sobem” do templo. É possível que tenha inspiração no dendezeiro, já que para os Iorubás essa árvore seria o axis-mundi. A bengala que Papa Legba carrega seria o próprio poteau-mitan, indicando a conexão intrínseca entre o mensageiro e a “ponte” entre os mundos.
Além disso, no Peristilo encontram-se também diversas decorações e altares. Geralmente os altares são divididos em Rada e Petwo e ainda Ghede, mas é possível que variações ocorram com mais divisões por nações. Peristilos maiores terão ainda um ou mais quartos anexos dentre os quais um será o djevo, a câmara na qual ficam os candidatos durante as iniciações.
O pátio aberto geralmente apresenta muitas árvores, que são compreendidas como locais sagrados dos Lwas. Além disso, pode conter a simulação de uma sepultura, em homenagem aos Ghede e outros elementos ou sagrados ou que remetem aos Lwas. É um local onde algumas cerimônias maiores podem ser conduzidas, em caso de necessidade. Ou reservado para confraternizações que integram as diversas cerimônias.
Em um templo Vodou também se encontrará com muita frequência diferentes tambores. Estes são instrumentos sagrados, cujos diferentes ritmos são utilizados para chamar Lwas de nachons distintas. Como já discutido, templos em grandes centros às vezes precisam realizar algumas modificações e uma delas é a ausência de tambores ou a substituição por gravações. Isto, visando evitar chamar atenção indesejada ou incomodar os vizinhos. Entretanto, esta supressão é controversa, já que os tambores são realmente ferramentas valorosas na religião.
Os sacerdotes Vodou (Houngan e Mambo) carregam em suas mãos um chocalho chamado de Asson. Esta é a ferramenta-emblema do sacerdote e ele a utiliza para conduzir as cerimônias, chamar e dispersar os espíritos. O chocalho é uma referência clara ao chocalho das serpentes. Ou seja, é evidente que cobras sejam símbolos de extrema relevância para a organização do Vodou. Isto encontra sentido no papel central de Dambalah e Ayida Wèdo, como já foi discutido em outros artigos.
Finalmente, embora este ensaio não seja exaustivo, cumpre comentar acerca dos veves. Estes são símbolos pintados ou desenhados com farinha de milho que representam e ao mesmo tempo personificam os Lwas. O paralelo mais evidente para Brasileiros são os pontos-riscados da Umbanda e da Quimbanda. Estes símbolos adornam os templos e são desenhados em farinha todas as vezes que os Lwas são provocados ou chamados. São símbolos intricados e de beleza única que por si só já revelam aspectos do Lwa correspondente. Alguns autores entendem que são derivados de práticas dos índios Tainos, da Ilha de São Domingos. Entretanto, esta suposta origem é alvo de discordância. Fato é que diversas nações Africanas tinham costume de usar representações visuais em suas expressões culturais. Como os Iorubás, por exemplo, que faziam diversas marcações corporais, algumas claramente relacionadas aos Orixás. Assim, é possível que os veves tenham também uma origem híbrida.
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