Frater Vameri
Imagem por thommas68.
Adam Mcgee pega a discussão levantada por Karen Richman para tentar entender melhor a divisão mais famosa no Vodou: Rada e Petwo. Tradicionalmente, essa divisão é explicada em termos de África e novo mundo. Entretanto, um olhar mais atento revelará que tal dicotomia é frágil.
Muitos autores têm tentando fugir do padrão “África versus novo mundo” estabelecendo os espíritos Rada como espíritos “calmos” e os Petwo como “agitados”. Embora eu considere que esta visão é melhor, ela também não dá conta de explicar toda a complexidade que existe nesses espíritos. A ideia de espíritos calmos pode dar a impressão de que eles são absolutamente, por exemplo, passivos, o que é um erro grave. Certos espíritos como Ogou às vezes são servidos como Rada e como Petwo, mas isso não muda suas características principais – e uma delas é sua energia ígnea.
Mcgee vai tentar puxar a discussão para o lado moral. Os Rada seriam então, espíritos com um senso de moral mais forte e os Petwo, amorais. Ele tenta usar a dicotomia “mão direita x mão esquerda”, inclusive citando o caso de Regla de Ocha e Regla de Congo, no qual isso é bem marcado. Embora não seja absurdo querer entender o serviço Rada como algo independente do serviço Petwo, também entendo que a divisão moral não é suficiente. Certos espíritos Petwo tem uma moral muito marcada, mesmo que ela seja ligeiramente “perigosa” paro que os ocidentais consideram como aceitável.
Tentar encaixar a teoria de Hubert e Mauss aqui – sobre magia x religião – também seria equivocado, entendo. Isto, pois, embora os espíritos Petwo sejam, sim, agitados e perigosos, seu culto não é marginal (generalizando) no Vodou. De fato, alguns dos Lwas mais populares são classificados como Petwo – por exemplo, Erzulie Dantor.
Adam Mcgee vai argumentar que os espíritos Rada estariam ligados a um ideal Africano fantasioso – a uma África mítica construída, frequentemente chamada de Guiné. Entretanto, ele é atento ao perceber que a Guiné também é ás vezes compreendida como um lugar africano fora da África. Essa duplicidade divisional então seria uma divisão entre o ideal e o material.
Porém, como Mcgee destaca habilmente, a divisão entre Rada e Petwo varia. Em um dado local um espírito poderá ser cultuado como Petwo, apenas para que na cidade vizinha, seu culto seja Rada. O que o autor faz é dizer que rejeita essa divisão como uma divisão de Panteões. É aqui que a discussão fica realmente interessante para quem pratica Vodou Haitiano, pois ele afirma que essa divisão é de estilo e de estética. O que eu interpreto disso é que na ideia de Mcgee Rada e Petwo seriam maneiras de se servir os espíritos. Isso ganha um pouco de força quando pensamos que certos espíritos como Damballah apresentam uma contra-parte Petwo – Damballah La Flambeau.
A resposta definitiva para essa questão ninguém ainda tem. Enquanto isso, vamos mastigando essas ideias.
McGee, Adam. "Constructing Africa: Authenticity and Gine in Haitian Vodou." Journal of Haitian Studies 14, no. 2 (2008): 30-51. Accessed April 26, 2021. http://www.jstor.org/stable/41715187.
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