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Os Gêmeos No Vodou

Frater Vameri



Imagem de Jenő Szabó por Pixabay.


Os gêmeos do Vodou

Os gêmeos tem importância fundamental entre diversas sociedades Africanas e, por exemplo, eram venerados no Daomé. De alguma maneira, essa importância foi transmitida para o Vodou Haitiano por meio dos Marasa. Neste pequeno ensaio, gostaria de discutir o conceito de Marasa no Vodou e tentar destacar sua importância.


No seu artigo de 2013, Pressley-Sanon cita a historiadora Edna Bay que nos revela que no Daomé, gêmeos e pares eram extremamente relevantes, pois representavam a totalidade alcançada pela complementaridade. Um dos exemplos utilizados por Bay é a complementaridade entre os mundos visível e invisível. Já discuti por aqui algumas vezes como considero que o Vodou é um fazer especialmente preocupado justamente com esse trânsito entre o visível e o invisível – de certa maneira, não seria de todo equivocado apostar que o Vodou também procura essa totalidade que deriva da soma dos complementares.


Pressley-Sanon chama a atenção para o fato de que depois dos gêmeos (Marasa) é importante que venha um terceiro elemento – um filho depois dos gêmeos. Neste caso, não podemos perder de vista que podemos estar falando de trigêmeos (Marasa twa). Ou seja, nascem os dois gêmeos e depois vem um terceiro elemento. É preciso considerar que o terceiro elemento é fundamental, pois ele é o nascimento da complementaridade: ou seja, ele é uma representação da criação. Aqui, as alegorias com a própria criação da vida, na qual dois se somam para gerar um terceiro são evidentes.


Esta fórmula de um mais um gerando três é o que expressa o conceito dos Marasa. Assim, vemos claramente que representam a expansão e o crescimento. Como já escrevi, também representam a criação. Por isso, os Marasa tem um lugar especial dentre os Lwas. Os Marasa são considerados muito poderosos e são servidos logo depois de Papa Legba (às vezes logo depois também de Papa Loko e Ayizan). Alguns praticantes consideram que os Marasa foram criados antes de Legba, mas como ele abre os portões – é preciso servi-lo primeiro.


Para reforçar a importância dos Marasa, vale citar a Mambo Vye Zo Komande LaMenfo que diz que eles são tão poderosos e divinos que nenhum cavalo suportaria ser possuído por eles. Logo, ela afirma que os Marasa não possuem ninguém nunca. Já Maya Deren afirma que podem sim possuir cavalos – e que quando o fazem apresentam comportamento infantil. Além disso, a Mambo Vye Zo Komande LaMenfo também afirma que eles são tão especiais que fazem parte da tríade fundamental do Vodou: “Lwas, Ancestrais e Marasa”. Ou seja, tamanha é a importância dos Marasa que eles são colocados em uma categoria à parte por essa Mambo.


Apesar obviamente de não serem crianças, se manifestam como tal. Por isso, podem ser servidos com elementos infantis – como brinquedos. Maya Deren afirma que a comida oferecida aos Marasa só pode ser dividida com crianças. Enfim, o importante quando estamos lidando com eles é nunca nos esquecermos de servir tudo em dobro. Afinal, estamos tratando de gêmeos. Ainda, recomenda-se especialmente o serviço aos Marasa a quem tenha gêmeos na família, pois se entende que os gêmeos terrestres são representações deles.


Escrevi mais acima que o Vodou parece seguir a ideia da complementaridade gerando a totalidade. Ou seja, a fórmula do Marasa. Concordando com o que Maya Deren escreveu, temos que os Marasa parecem representar a natureza meio mortal e meio imortal humana. A soma disso seria, claro, uma plenitude. É essa plenitude que podemos entender que o praticante de Vodou procura ao navegar pelo mundo visível fazendo suas conexões com o invisível. Assim, fica claro que os Marasa nos ensinam sobre a própria natureza da jornada humana e que devem ser alvo de meditações frequentes.


Bibliografia:

Pressley-Sanon, T. (2013). One Plus One Equals Three: Marasa Consciousness, the Lwa, and Three Stories. Research in African Literatures, 44(3), 118-137. doi:10.2979/reseafrilite.44.3.118

Mambo Vye Zo Komande LaMenfo. Serving the Spirits.

Maya Deren. Divine Horsemen: the living Gods of Haiti.

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