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Ordenação

Frater Vameri

Noite passada eu sonhei que era sacerdote. Em minhas mãos, carregava o distintivo do ofício, a arma do eclesiástico. Então, quando estava junto dos meus pares, meu distintivo partiu-se repentinamente. Não houve julgamento. Não houve repressão. Nem mesmo houve dúvida. Juntei as partes e cumpri meu dever ainda assim. Ao mesmo tempo, minhas irmãs e meus irmãos ajudavam-me a conserta-lo. Acordei intrigado. Temi que fosse um aviso ruim, aquele sonho. Pensei nele longamente e só quando relaxei a mente e o espírito, percebi que era o oposto. O sacerdote não é seu distintivo. Se os irmãos o reconhecem como tal, ele é. Quando as adversidades surgem, não pode simplesmente sentir-se derrotado. Ele persevera e assim revela a razão de sua dedicação. Os sonhos são obra do espírito. Tocados pelo invisível. Retratos de engrenagens imateriais que giram o universo infindável. São crípticos e frequentemente os examinamos contaminados pela razão, um enxame de dúvidas. Nenhum caminhar avança sem tropeços. Aquele que fica paralisado frente às dificuldades não poderá venerar seus Deuses e erguer altares. A união com o divino caminha pela força da vontade e do comprometimento. Ela é uma estrada que deve ser pavimentada constantemente. Construir um caminho é dispor-se a sucessivas dissoluções seguidas de rearranjos. É magia saber adorar nosso próprio universo. É mágico quando nos coroamos sacerdotes de nossas realidades. Noite passada eu sonhei que era sacerdote e hoje acordei um.

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