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O Mundo Natural no Vodou

Frater Vameri



Imagem por Bessi.




Há uma corrente de pensamento que afirmar que o ocidente e sua secularização contribuíram significativamente para a dessacralização da natureza e, assim, para as crises ecológicas que o mundo enfrenta. Pensando sobre essa questão, achei que seria interessante demonstrar também por esse viés, como o Vodou haitiano se distancia das religiões ocidentais mais tradicionais.


A ideia é relativamente simples – a ênfase na ciência para benefício imediato da humanidade colocou todo o resto em segundo plano, inclusive a vida espiritual. No que sobrou de espiritualidade, o ocidente também trabalhou sua influência, retirando o poder da natureza e colocando-o apenas no homem. Em segundo plano em todas as frontes, o homem passou a tratar o mundo natural apenas como ferramenta. O resultado está claro.


Há apoiadores e críticos dessa teoria. Com certeza ela rende uma excelente discussão e embora a ideia geral seja fácil de entender, dela derivam diversas complexidades. Entretanto, não as discutirei aqui. Não é do escopo desse pequeno artigo.


Já comentei diversas vezes sobre como a secularização é um fenômeno que atinge muito pouco o Vodou haitiano e que não é recepcionado em sua essência. Não é possível separar, dentro do Vodou, camadas de vida. No escritório, na rua, no restaurante, em todos os lugares o servidor dos Lwas verá a agência desses espíritos e de tudo mais que compõe o invisível.


Além disso, o mundo natural é parte integral dessa dinâmica. As folhas, raízes, animais e matas são fontes de poder e de mistérios, são habitações para os Lwas e também para outros espíritos e são, assim, absolutamente fundamentais dentro do conceito de sagrado do Vodou haitiano.


Os exemplos mais óbvios são os Lwas que habitam determinadas árvores ou ainda Lwas que são diretamente ligados á natureza, como rios, matas e feras. Atacar a natureza, dentro do Vodou, é, portanto, destruir as próprias entranhas da realidade. Não faz sentido. O mundo natural não é uma ferramenta a serviço da humanidade, mas é, junto da humanidade, parte de um cenário dinâmico e (que deveria estar) equilibrado.


Não que os servidores, individualmente, não possam melhorar sua consciência sobre o mundo natural. A discussão não é essa. O tópico aqui é sobre a essência da espiritualidade. Quando discutimos como ela é, de fato, praticada, sempre encontraremos espectros e desvios. O mesmo vale para as religiões ocidentais, nas quais há uns ou outros preocupados com a reintegração do mundo natural ao sagrado, sejamos justos.


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