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Manman Brijit - a dona do cemitério

Frater Vameri


Imagem de MichaelGaida por Pixabay


Quando pensamos nos Guédé geralmente a primeira imagem que surge em nossa mente é a do Barão Samedi. Entretanto, os Guédé são uma família muito diversa. Embora, claro, exista um tema que os une. Dentro desta miríade destaca-se Manman Brijit, que é considerada como a mãe de todos os Guédé. Uma figura com tamanha importância só pode render uma discussão interessantíssima.


É comum que vejamos Manman Brijit sendo descrita como a “companheira do Barão Samedi”. Essa é uma descrição que me parece pouco inspirada. É um artifício fácil para uma explicação razão e nada mais. Talvez (e apenas talvez) se sustente em uma conversa rápida e descompromissada. Porém, qualquer um que se ponha a digitar algo sobre esta Lwa pode chegar mais longe sem maiores dificuldades.


Em um cemitério, a primeira mulher enterrada é compreendida com a Manman Brijit. Émile Marcelin nos conta que se a primeira pessoa a ser enterrada for uma mulher, então o cemitério pertencerá à Manman Brijit. Ora, isso é muito curioso. Como veremos. Brijit e Samedi apresentam personalidades distintas e se nós considerarmos que há um dono do cemitério, poderíamos também considerar que um cemitério comandado por Brijit seja bem distinto de um comandado por Samedi.


Seu símbolo é uma pilha de pedras. Certamente este símbolo faz referência aos túmulos antigos que eram marcados por pedras empilhadas. De certa forma isto parece revestir Brijit de uma antiguidade e de uma ancestralidade mais primordial. Como um espírito feminino e mãe de todos os Guédé, talvez não seja absurdo pensar que ela seja mesmo a fonte desse grupo.


Isto pode conversar com o que Milo Rigaud fala dela: que teria sido Eva, a primeira mulher criada, junto de Adão (Ossangne – apontando este Lwa como o primeiro amante de Brijit). Assim, como a primeira mulher criada, ela realmente seria a fonte da vida – e tudo que dá a vida, dá necessariamente a morte. Portanto, podemos tirar daí uma maneira de se compreender esta Lwa.


Como esta grande mãe da morte, Brijit é também uma das juízas do Vodou. Ela age em causas de justiça e de resoluções, o que parece uma face muito oportuna, já que as lendas de julgamentos na hora da morte são abundantes. Além disso, não há maior equalizador do que a morte – e essa é uma das grandes lições que podemos aprender com os Guédé.


Marcelin nos conta que é raro que uma pessoa seja possuída por Brijit. Entretanto, quando ocorre colocam-se algodões nas narinas e ouvidos dos cavalos e eles se deitam como cadáveres. É curioso pensar que até mesmo em sua manifestação no mundo dos vivos, Manman Brijit se comporte exatamente como um corpo. Talvez seja apenas sua natureza. Porém, pode ser que este ato esconda mais significados: por exemplo, pode ser uma maneira bem eficaz de nos lembrar o que nos espera e, com sorte, colocar-nos em nosso lugar. Quem sabe assim evitamos um julgamento severo?


Para terminarmos essa breve discussão, cabe citar que algumas vezes encontramos alguns textos ou afirmando ou sugerindo que Manman Brijit tenha origem (ou seja) a Deusa Brigite dos Celtas. Há autores e praticantes que dizem que Brijit seria de pele branca e ruiva e que, além disso, sua associação com a justiça seria indicativa de sua ancestralidade Irlandesa e identidade conflitante com Brigite. Há também uma música que diz que Brijit “li soti nan anglete” – “ela veio da Inglaterra”. Bem, cumpre deixar claro que há pesquisadores que rejeitam essa ancestralidade de Brijit como mera fantasia ou como uma tentativa de reconstrução. Portanto, não há consenso quanto a essa conexão.

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