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Grann Aloumandia, a Rainha do Congo.

Frater Selwanga




Pintura representando Bois Caïman.


A nação Congo do Vodou é composta por dois tipos diferentes de Lwa, Congo bo-lanme (da costa do Congo ou Fran Congo) e Kongo Savann (Congo do pântano ou Congo selvagem). É desses mysté que derivamos o conceito de pret savann, o sacerdote selvagem, aquele que se entende ser guiado pelo próprio Gran Bwa nos mistérios do Vodou. Os Congo Savann são curandeiros e possuem o conhecimento das ervas. Os Congo bo-lanme são considerados mais versáteis e mais complexos.


Do Congo nascem outras cingo nações, que são Kanga, Kita (tanto a Ti-Kita ou Kita pequena/honesta e a Kita sèch, Kita seca), Caplaou, e as nações Moundong e Boumba que apresentam forte raízes Congolesas.


Os mysté centrais desta nação e dos ritos desta área se dão conforme descrito por Andre Louis em seu livro Voodoo in Haiti de 1843:


Bazou, que também é chamada Angola Fran Congo, Dyobolo, Grann Alouba, Grann Aloumandia, Kanga, Caplaou, Penmba, Laoka (Congo Legba), Lenmba Zaou, Madanm Lawe, Maloulou (Congo Petro), Man Inan, Manman Penmba (Congo Petro), Marasa Congo Bod – me, Met Penmba, Renn Kongo Fran, Sidò Penmba (Congo Petro), Simbi Dlo, Sinigal (Senegal Congo), Wa Lawn (Congo Rada Lowango), Wa Wangol (Angola Congo), Zaou Pemba (Congo Petro), Zenga, Zila Moyo.


Os seguintes mysté se espalham do Congo até o coração da nação Nagô:


Achade Boko, Atoum Gidi, Bakousou, Bolicha, Bosou Achade, Grann Obatala, Jan-Pye Poungwe, Jeneral Jil Kanmil, Lenmba File Sab, Ogou Baba, Ogou Badagri, Ogou Bakoule, Ogou Balendyo, Ogou Balize, Ogou Batala, Ogou Chango, Ogou Feray, Ogou Kankan Nikan, Ogou Palama, Ogou Tonnè, Ogou Yansan, Olicha, Osan’y, Ti-Jan and Ti-Pyè.


O que não é apenas interessante, mas de grande importância é que essas listas de forças espirituais raramente falam apenas de um Lwa específico, elas estão listando fenômenos espirituais, situações e conceitos únicos, assim, revelando uma percepção distinta do mundo do Vodou. Nessas listas, por exemplo, caso você conheça o suficiente sobre Ogou Ashade, poderá encontrar mais chaves e mais contextos para entender este mysté. Sabemos que Achade é uma qualidade de Ogou, mas aqui vemos, na lista, a referência a Boko e Bosou, todos estes tendo em comum a memória do Rei do Daomé Tegbosou (1740-1774), que é o fundador do rito Bosou e compreendido ele mesmo como uma manifestação de Ogou carregando a qualidade de um touro (Bosou) e o fundador da tradição Bokor cujo patrono hoje é chamado de Ogou Bokó Ashade, um mistério Congo principal que tem seu próprio rito. Portanto, se ganha mais clareza para se entender um dado mysté.


É aqui, na nação Congo, que nos aproximamos das panelas escaldantes do Vodou, do fogo honesto que começou a tradição asogwe e que levou ao nascimento dos espíritos Petro. A nação Congo é em seu reglement, sua prática e em sabor muito similar ao que encontramos na tradição Tumular Franco-Haitiana do Palo Mayombe codificado em famílias menores da nação Congo em nomes como Penmba, Canga, Poungwe e outros – e por mais que esse tópico seja interessante, o deixaremos para outra ocasião.


Neste artigo vamos focar na tríade Ibo – Congo – Petro do Vodou onde encontramos três matriarcas do Vodou Petro, a saber: Ibo Lelele, sua irmã mais velha Grann Aloumandia and Erzulie Dantor. Esta tríade foi estabelecida em 1791 com a revolta dos escravos em Bois Caïman.



Veve de Aloumandia.


Quando a Mambo Cécile Fatiman foi tomada por Erzulie Dantor e sacrificou com um sabre um porco negro cujo sangue foi usado para jurar fidelidade entre aqueles que estavam presentes na fatídica noite de 1791 em Bois Caïman, Boukman chamou os espíritos Petro através da assistência de Dan Petro. O Dan Petro é muito provavelmente a hierofania do sucessor de Boukman Don Pedro, que desde 1768 fez fama por conta de seu repertório nada usual de mistérios quentes aos quais nos referimos largamente como nação Petro hoje em dia. Portanto, podemos dizer que aquele foi o momento no qual a nação Petro realmente nasceu, parida do ventre misterioso de Ayida Wedo, auxiliada por Dan Petro, jurada à Erzulie Dantor. Por isso, Erzulie Dantor é a verdadeira “dona” de todos os espíritos Petro e é por isso que a vemos tomando posições supremas em nações, sociedades e cultos mais quentes, como Zandor e Bizango.


Neste momento, em 14 de Agosto, também temos a presença de dois Lwa importantes, a raiz da nação Ibo, Ibolele, e a raiz da nação Congo, Grann Aloumandia, a primeira presidindo os mistérios da transmigração das almas e Aloumandia sendo a mensageira dos Lwa. Muito apropriadamente sua festa é comemorada no dia 29 de Setembro, na festa dos Arcanjos, enfatizando sua conexão com o angelical que se manifesta em sua iniciação de Aiyizan Velekete como a primeira Mambo por conta dos dons proféticos de Aiyizan.


A Grann Aloumandia tem muitas formas, ela é meio-sereia, meio-vegetação, e ela é a costa que se define no desenho da mata. Ela representa o que é sólido como as pedras, rochas e o carvão. Como a mãe do Congo* encontrando seu caminho nos ritos Petro, entende-se que ela seja a mãe de Azaka Hazagou, Lemba e Limba, os dois últimos sendo vistos como mistérios hostis e canibais, como os espíritos Baka que vivem em pedras e rochas. Azaka Hazagou é associado ao fogo perpétuo, pedras (Lemba e Limba) em chamas e, portanto, encontramos aqui a fome de Azaka transposta na maneira como o fogo pode consumir e aquecer pedras, carvão e ferro.


Grann Aloumandia é fome e memória, ela é a vastidão do oceano e o espalhamento lascivo da mata, o apetite de continuação entre Mambo e mysté, a ponte entre os mundos visível e invisível. Sua irmã mais nova, Ibolele, preside os ritos funerários e a jornada de volta às águas abismais enquanto Erzulie Dantor comanda o reino no qual os Lwa caem em seus cavalos e cavalga esse mundo com fogo protetor e clarividência estranha, uma faca em sua mão, duas em seu coração e mais 100 em seus cabelos.


*É possível entender também que Grann Aloumandia seja a mãe de todos os Ogous.

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