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Funeral no Vodou

Frater Vameri



Imagens do funeral de Max Beauvoir.


Frequentemente me perguntam como são os rituais funerários no Vodou Haitiano. A minha resposta é sempre a mesma – depende – pois, como canso de insistir aqui não há apenas uma maneira de se fazer Vodou. Porém, há um âmago que é razoavelmente conservado e sobre o qual podemos discutir brevemente.


Primeiro, é preciso destacar que se entende que a alma fica próximo ao corpo logo que ocorre a morte. Esse tempo no qual a alma está junta ao corpo, que varia de sete a nove dias, é um tempo muito sensível, durante o qual certos rituais são realizados a fim de garantir uma passagem tranquila e também objetivando livrar os vivos de eventuais problemas com o falecido.


Durante esse período é preciso cortar essa ligação da alma ao corpo, para que ela cumpra sua viagem para as águas abissais, onde ficará por um período de um ano e um dia (pelo menos) antes de novos rituais funerários serem realizados (se a família tiver condições financeiras).


No período de 7-9 dias são feitas orações por toda a comunidade. No sétimo ou no nono dia é feito, de fato a alma estará livre para seguir. Durante esse tempo, a família e a comunidade preparam comidas, oferecem bebidas e cantam e dançam. Claro que há no meio disso tudo costumes católicos que se entrelaçam, mas deixemos esses aspectos mais complexos para outra oportunidade.


Essa ideia de 7-9 noites parece realmente ser algo herdado da África Ocidental, visto que encontramos práticas similares nessa região e também em outras regiões do Caribe – como na Jamaica, conforme trabalho de Simpson em 1957. É importante relembrar que a alma, para o Vodou, é um ente com múltiplas partes e nem todas se comportam igual na morte, mas ficamos com essa ideia pelo bem da simplicidade. Outra ideia muito curiosa é a de ligação da alma ao corpo e encontramos o outro extremo disso em crianças que são atacadas por Lougawous, visto que são mais frágeis justamente pelo fato da alma ainda não estar completamente ligada ao corpo.


Então, eu os convido a pensarem comigo sobre como essa ligação da alma ao corpo talvez seja o elemento fundamental do rito funerário. Isso advoga a favor de ritos de corpo presente, pois imagem – caso não exista corpo – como essa alma ficaria então próxima para receber os ritos adequados? Um dos grandes perigos desse momento frágil é a de que a alma seja capturada por feiticeiros e podemos pensar que almas sem um “ponto focal” podem ser ainda mais susceptíveis a isso. Sem falar na dificuldade de encaminhar a alma e as chances dela ficar vagando serem ainda maiores.


Podemos também pensar que esses ritos sofrerão mudanças inevitáveis. Por exemplo, a diáspora Haitiana é real e muito forte. Como ficam os mortos longe de sua terra? Não há em todos os países uma comunidade Haitiana forte para fornecer esse tipo de suporte. O protestantismo também cresce vertiginosamente no Haiti, se no passado o Vodou e o Catolicismo dividiram o mesmo espaço, agora há mais um elemento – e esse fatalmente alterará essa dinâmica. Como? Teremos de esperar pra ver.


Bem, essa foi uma discussão rápida – uma introdução despretensiosa. Espero que tenha sido o suficiente para saciar um pouco da curiosidade de vocês.

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