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Encruzilhada

Frater Vameri

O ponto de encontro ou de união é o local onde todas as possibilidades e potencialidades estão disponíveis. Neste espaço, as coisas se tornam tudo o que poderiam vir a ser e o que já foram. Estas potencialidades então se embaralham e o resultado é que tudo é possível.

A união entre duas pessoas gera uma máquina mágica que pode construir seres cuja diversidade é infinita e indescritível. O encontro entre duas retas traz toda a infinidade de pontos destas como uma carga que se concentra em um potencial para espalhamento de formas em toda as direções. A mente é o ponto de encontro entre o espírito e o corpo. É o filtro por onde experimentamos as sensações e situações, tanto materiais quanto imateriais. A mente, sabemos, é interminável.

Existem dois momentos da existência na qual estes pontos de união se manifestam de maneira clara e, não por acaso, são os dois momentos cujos mistérios comandam as questões de maior conflito e desejo do espírito. Ao nascer estamos num ponto de intercessão entre o imanifesto e o manifesto e ao morrer, retornamos a este ponto. Já foi dito que nascer e morrer são essencialmente a mesma coisa e talvez sejam.

O ponto de comunhão está representado em um dos muitos símbolos do célebre afresco da Capela Sistina, de autoria de Michelângelo, no qual Deus e o homem estão prestes a se tocar. Este é o momento no qual divindade e criatura se encontram e partilham das suas naturezas, onde o mundo invisível se faz notar concretamente no mundo das sensações. Michelângelo estava retratando a criação de Adão, até onde sabemos, mas bem poderia se tratar também da união entre espíritos e homem, como nos transes de possessão ou nos sonhos, nos quais grandes revelações espirituais são descortinadas. Este ponto de comunhão é também popularmente conhecido como encruzilhada.

Na encruzilhada então, onde todas as possibilidades se apresentam, o humano encontra seu zênite e seu nadir e passa a estar nas raízes e na copa da árvore ao mesmo tempo. É onde Kether é Malkuth e Malkuth é Kether. Ali, o humano finalmente compreende que é Deus e o Diabo e tudo mais que houver entre estes dois.

Colocar-se na encruzilhada é preciso então. Lá, a cristalização do mundo das sensações torna-se maleável e o sublime fica capturável. A pessoa que souber operar nestes níveis conseguirá subverter a realidade, quebrando a “regra do jogo” e será então o Mago, o trapaceiro por natureza e excelência. O construtor de sua própria verdade.

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