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A Cabeça de São João Batista

Frater Vameri



Pintura por Jusepe de Ribera.



São João Batista, todos nós sabemos, foi decapitado. Sua cabeça virou objeto de mistérios, conspirações e de muitas disputas. Nessa rede intricada de conexões, a cabeça de São João Batista passou pelo imaginário dos Cavaleiros Templários, da Maçonaria e, finalmente, foi parar no Vodou.


Há uma associação pouco falada entre São João Batista e Ogou Balendjo. Esse Ogou é considerado como um espírito extremamente sábio e antigo e, por conta de seu sincretismo possível com São João Batista, tem uma forte associação aos crânios – geralmente um domínio dos Gedes. De fato, alguns consideram Ogou Balendjo como uma contraparte do Rei Salomão, aquele que teria erguido o templo com o auxílio do arquiteto Hiram Abiff, personagem central da mitologia Maçônica. O Rei Salomão é muito lembrado pela sua grande sapiência, mas não nos esqueçamos de que Salomão é também um grande feiticeiro, existindo até hoje uma tradição esotérica fortemente influenciada por essa figura.


Katherine Smith nos lembra de que São João foi decapitado por revelar segredos – e ela diz que os ougans geralmente guardam um crânio nos templos. Provavelmente esse crânio que é considerado como a própria cabeça de São João Batista tem uma função dupla: lembrar ao sacerdote dos seus juramentos de segredo aos ritos e aos Lwas; e uma menos óbvia, que é dar alguma vantagem profética ou de visão, já que São João, Ogou Balendjo, Rei Salomão eram sábios e que sabiam de muitas coisas.

São João também é o padroeiro da Maçonaria e o Rei Salomão figura central em sua narrativa. Assim, Ogou é um Maçom por excelência, o que faz de todo o Vodou, do qual o Ogou é considerado o rei por muitos servidores, uma parte da ou uma maçonaria própria.


A última ligação que podemos explorar brevemente, também pegando carona nos achados de Smith, é que Ti Jan Petwo é outro Lwa que é sincretizado com São João criança. Ti Jan é considerado um acompanhante de Ogou San Jak e filho de Ezili Dantor, compreendida por muitos com a Rainha-mãe da Maçonaria. É curioso que esses três estejam relacionados de, pelo menos, duas maneiras: Ezili Dantor e Ogou são os “padroeiros” de Bwa Kayiman – o estopim da revolução Haitiana; os três podem estar relacionados aos três graus das Lojas Simbólicas Maçônicas – Aprendiz, Companheiro e Mestre – eu só diria aqui que provavelmente o último grau – do Mestre – deve ser compreendido como associado à Ezili Dantó, lembremos, afinal, que é a mulher que passa a linhagem, o sangue...

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