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Foto do escritorEduardo Regis

A ainda equivocada visão sobre o Vodou

Frater Vameri


Parte do nosso esforço aqui no site da OTOA-LCN Brasil envolve discutir o Vodou Haitiano de maneira sólida. Geralmente isso envolve revelar aspectos da teologia, dos ritos e até mesmo discussões pelos pontos de vistas muito particulares de um ou outro pesquisador. Um dos objetivos desse trabalho é também deixar claro o que o Vodou não é, mas, infelizmente, ainda há muito a ser feito nesse sentido, como revelou um meme que anda circulando pelas redes sociais.


Vodou (sendo esta a grafia mais aceita hoje em dia) ou Vudu ou ainda Voodoo é um termo associado fortemente à magia maléfica e a uma série de superstições. Isso encontra raízes na ocupação do Haiti por forças Americanas, no início do Século XX (1915-1934). Nesse momento, diversos Estadunidenses, mal equipados para lidar com a alteridade, tomaram as práticas espirituais Haitianas como bárbaras e atrasadas. Na verdade, essa ideia já vinha de antes. Até o próprio Haiti tentou apagar o Vodou de sua história, na tentativa de ingressar no hall das nações civilizadas, antes de, finalmente, fazer as pazes com sua cultura e declarar o Vodou como um patrimônio nacional.


Também temos que falar de Hollywood. Filmes como “White Zombie” e mais tarde “A Maldição dos Mortos-Vivos” não ajudaram em nada a elucidar o Vodou. O Barão Samedi, figura exótica e que colocou medo em muitos estrangeiros (e também os encantou, sejamos honestos) tornou-se vilão de filme até do James Bond e figura até em jogos de vídeo game. Tudo isso transformou a espiritualidade e a cultura Haitiana em matéria própria para deboches e ajudou a sedimentar engano após engano acerca do Vodou.


Nestes últimos dias, essa ignorância mostra que continua muito viva. Em um país como o Brasil, no qual diariamente terreiros de Candomblé e centros de Umbanda são atacados e no qual a herança negra é destratada frequentemente, não surge com espanto o meme do qual falo. Trata-se de um “Voodoo Virtual” para “derrubar” um inimigo. Para tanto, bastaria coloca-lo eletronicamente ao lado do apresentador Luciano Huck em uma foto. Acredito que não sejam necessários esclarecimentos acerca do meme em si, que obviamente não reproduziremos aqui.


O que esse meme reforça é a ideia de que o Vodou é: 1) Algo maléfico – ignorando assim que o Vodou é uma religiosidade complexa que abarca todas as expressões humanas e da natureza. 2) Uma ferramenta mágica apenas – o Vodou serviria apenas para a consecução de objetivos imediatos e grosseiros, deixando de lado, portanto, toda a interação sutil com o invisível que há nesta religiosidade. 3) Uma prática sem crédito – já que é relegado a uma piada absurda sem que haja qualquer espaço de discussão proporcional e sólido. E o pior – 4) que o Vodou seja só isso – e aqui temos a questão principal. Não vemos muita preocupação em mostrar algo além.


Com isso, não pretendo dizer que o Vodou não possa ser explorado em ficção ou por qualquer maneira narrativa ou ainda que o meme em questão seja o problema do século. Ou ainda muito menos que nada possa ser construído em cima do Vodou. A questão aqui não é um purismo ou ainda uma proteção insensata. Apenas aproveito a oportunidade para lembrar que há muito sobre o Vodou que simplesmente não é dito. Por isso, acredito que o tal meme seja uma boa lembrança da razão pela qual os textos da OTOA-LCN têm sido tão relevantes ao público interessado.




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